Semana passada recebi um telefonema de Renata, herdeira de uma empresa metalúrgica, convidando-me para um almoço. Nos conhecemos há cerca de uns sete anos, quando ela solicitou uma proposta para aperfeiçoamento da estrutura organizacional, acreditando que seria a coordenadora deste trabalho de transformação da empresa. O pai nunca permitiu que os trabalhos previstos na proposta fossem realizados, frustrando-a.
Durante o almoço, Renata comentou a situação da empresa que ela herdara com a morte de seu pai: poucos e antigos clientes cheios de privilégios, equipamentos e processos arcaicos, funcionários acomodados e defasados; aspectos que juntos só se sustentavam porque todos os bens da empresa e os particulares de seu pai estavam comprometidos com bancos. Portanto, não lhe restava (segundo o seu entendimento) nenhuma outra alternativa senão fechar a empresa e ficar conhecida em sua cidade como aquela que não teve competência para dar continuidade a um empreendimento que o pai havia preservado durante mais de 40 anos.
Buscando um meio para explicar-lhe o que havia se passado com aquela empresa de tal forma que ela ao menos percebesse que não adiantava se culpar nem acreditar que haveria outra saída, recorri a uma comparação entre sua empresa e um bonsai¹. Seu pai havia cuidado daquela metalúrgica durante muito tempo como se fosse uma destas arvorezinhas mantidas em pequenos vasos, que servem somente como ornamento. O orgulho do patriarca era participar das reuniões do grupo de empresários da cidade, do qual era um dos fundadores, podendo sempre afirmar que não devia nada a fornecedores, não tinha nenhum processo contra sua empresa na justiça trabalhista, nem deixava de cumprir seus compromissos junto aos seus clientes.
Ou seja, a sua empresa-bonsai tinha folhas verdes, seu tronco era firme e livre de pragas, suas raízes ocupavam todo o espaço do pequeno vaso onde estava aprisionada, sendo permanentemente cortadas pelo empresário que não a desejava maior do que aquilo que ele era capaz de dominar e controlar; portanto, a nutria com o suficiente para continuar viva, mas não lhe dava a menor chance de se desenvolver. Assim, ele e sua empresa permaneciam isolados sem agredir e sem serem agredidos.
Deixando de interagir efetivamente com o mundo real, mantinha alguns traços vitais qual um paciente em coma mantido vivo com a ajuda de aparelhos, mas não tinha vitalidade. A arvorezinha não dava sombra para abrigar processos saudáveis, capazes de fornecer frutos generosos e disputados pelos clientes, pois de tanto ser podada se via na total impossibilidade de conquistar outros atributos e, acanhadamente, se contentava com a longevidade.
Conclusão
O orgulho e a prepotência do pai impediram que o necessário fosse feito (enquanto isso ainda era possível e suficiente para reverter a situação da empresa). Para Renata, não restava outra alternativa senão fechar a empresa, enfrentar a opinião pública com serenidade, procurar emprego e perdoar seu pai.
¹Bonsai é uma técnica japonesa que visa inibir o desenvolvimento normal de árvores.
Autor: Sebá (Pseudônimo de Sebastião de Almeida Júnior, autor de quatro livros sobre negociação, pela Qualitymark, palestrante convidado pela UNICAMP, para tratar deste tema e Consultor na Área de Desenvolvimento Gerencial & Organizacional desde 1987).
Fonte: Arquivo FBDE|NEXION – www.fbde.com.br